Durante a visita à Casa do Baile e ao Museu da Pampulha, projetados por Oscar Niemeyer, pôde-se observá-los sob uma análise crítica e relacioná-los aos conceitos apresentados por Herman Herzberger em ‘Lições de Arquitetura’. Viu-se que o projeto arquitetônico não se limita à sua aparência e função, sendo que estes podem ser trabalhados de forma a enriquecer as interações sociais que poderão ocorrer no espaço. O museu, projetado para ser um cassino, foi incrementado com rampas e percursos que enfatizavam as aparências da alta sociedade freqüentadora do local, além de pontos de encontro que induzem interações mais íntimas, normalmente propiciadas por um ambiente festivo.
Aparentemente o museu funcionaria bem como cassino, sobretudo na época em que foi construído, já que parece atender a todas as demandas para as quais foi projetado. Tendo atingido esse objetivo, a construção é bem resolvida e não apresenta a “flexibilidade” de Hertzberger, que seria a ausência de identidade ou traços característicos. Ainda que haja certa polivalência na construção, esta não se estendeu à função expositora do museu, cujo excesso de luz provocado pelas grandes janelas é danoso às obras artísticas ali colocadas ou ainda à sua apreciação, dificultada por reflexos e muita claridade. Se os vidros fossem tampados, porém, o espaço perderia parte essencial de sua identidade e a transição entre espaços público e privado, cuidadosamente trabalhada pelo arquiteto. A construção poderia até permitir diferentes formas de uso do espaço, desde que não fossem tão discrepantes de sua função original, como é o museu.
A Casa do Baile é atualmente restritiva não por sua forma, mas por seu próprio status de patrimônio. A Casa foi concebida como espaço de socialização e poderia ser aproveitada de diversas maneiras como tal, tanto interna quanto externamente. O formato circular do salão acompanhado por seu exterior, também circular, representa uma artimanha do arquiteto, que, ao disfarçar os ambientes de banheiro e cozinha, evita que estes entrem em conflito com o espaço de interação, que mantém sua suavidade. A área externa é descontraída por sua grande abertura, cobertura irregular e relação harmônica com o ambiente natural em seu entorno. Ali, mesas poderiam ser distribuídas de forma variável para um aproveitamento da Casa como bar ou restaurante, já que esta apresenta inclusive estruturas para isso. O salão circular poderia ser usado ainda para eventos e festividades, se este não estivesse obstruído pelo auditório que foi construído em seu interior, em total desconsideração com sua forma original. A Casa do Baile é um exemplo de como o "cuidado" em demasia com um local, quando este adquire status de monumento, pode ser nocivo e propulsor principal da perda de identidade do mesmo. Um espaço que poderia ser aproveitado de diversas maneiras, sendo dessa forma constantemente valorizado, hoje se encontra restrito e praticamente vazio de experiência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário